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domingo, 18 de maio de 2025

Bebês Reborn

Bonecos Realistas, Mas Não Substitutos de Filhos



Nos últimos tempos, os chamados bebês reborn têm ganhado destaque nas redes sociais, em reportagens e até mesmo nas vitrines de lojas especializadas. Esses bonecos extremamente realistas impressionam por seus detalhes: veias aparentes, peso semelhante ao de um recém-nascido, pele com textura e até cheirinho de talco. Para muitos, trata-se de uma forma de arte. Para outros, um hobby ou um item de coleção. No entanto, o uso emocional e simbólico que alguns adultos fazem desses bonecos levanta um importante alerta.

Antes de tudo, é preciso reforçar: um bebê reborn é um objeto, não uma criança. Ainda que sua aparência desperte instintos de cuidado e ternura, trata-se de um boneco — elaborado com técnicas artísticas, mas sem vida, sem identidade e sem vínculo real. O problema surge quando ele ultrapassa o limite do brinquedo ou da peça artística e passa a ocupar o lugar de um filho, neto ou membro da família.

Muitos relatos mostram pessoas tratando reborns como se fossem bebês reais: compram enxovais, alimentam com mamadeiras, saem para passear com carrinhos, celebram “mesversários” e os chamam de filhos. Embora cada um tenha liberdade para se expressar, é importante observar os limites do emocional. 

Quando um objeto é tratado como substituto de uma perda, ou usado para preencher um trauma não elaborado, o risco de dependência emocional e distorção da realidade é alto.

A psicologia adverte: um trauma, como a perda de um filho ou a impossibilidade de ter filhos, precisa ser enfrentado com apoio emocional e, quando necessário, com acompanhamento profissional. Fugir da dor criando uma fantasia pode apenas prolongar o sofrimento, impedindo que o luto siga seu curso natural. Substituir a ausência de uma criança real por um boneco, por mais realista que seja, não resolve a dor — apenas a silencia momentaneamente.

Além disso, é preocupante o discurso que naturaliza o reborn como “filho adotivo”, “neto do coração” ou parte de uma “família alternativa”. Essa linguagem, embora simbólica, pode reforçar uma ilusão que dificulta o enfrentamento da realidade. É preciso diferenciar o afeto por um objeto estético e o vínculo afetivo real com um ser humano. Uma coisa é o encantamento pela arte envolvida na criação do boneco; outra bem diferente é atribuir a ele sentimentos, identidade e papel social.

Isso não significa demonizar os reborns. Pelo contrário: o trabalho artístico envolvido na produção desses bonecos é digno de reconhecimento, e sua beleza pode encantar muita gente. O que se questiona aqui é o uso emocional inadequado, especialmente quando não há acompanhamento ou compreensão clara da própria motivação.

Bebês reborn não são filhos, não devem ocupar o lugar de filhos e jamais devem ser a solução para traumas emocionais não resolvidos. Eles são bonecos — sofisticados, bem elaborados, mas bonecos. Confundir isso pode ser um sintoma de algo mais profundo, que merece atenção, escuta e cuidado profissional.

Portanto, se você admira os reborns como forma de arte, coleção ou objeto decorativo, tudo bem. Mas se perceber que está depositando nesse boneco expectativas emocionais de maternidade, apego afetivo intenso ou tentando escapar de uma dor, procure ajuda. Traumas não desaparecem com silêncio ou substituições — eles precisam ser acolhidos e elaborados.

A fantasia pode ser uma fuga, mas a verdade é o caminho para a cura.

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