Existe a possibilidade em um futuro próximo do trabalhador receber créditos de energia ao invés de salário no final do mês. Com esse crédito, todas as aquisições teriam o seu valor calculado na quantidade de energia necessária para produzi-la. Avaliamos essa hipótese e descrevemos como seria todo o processo, caso essa hipótese se torne real.
A seguir, avalio essa proposta de forma sensata, sob os aspectos econômico, tecnológico, político e social, e descrevo como funcionaria o processo caso fosse implementado.
Hipótese: Salários pagos em Créditos de Energia
O que são Créditos de Energia?
São unidades de valor lastreadas na quantidade de energia (em kWh, MJ, etc.) disponível ou necessária para produzir bens, serviços e movimentar a economia. Ao invés de dinheiro fiduciário, cada cidadão receberia uma “cota energética” mensal, que pode ser gasta conforme o consumo.
Como seria o funcionamento do sistema
1. Produção de Energia como base monetária
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Toda a energia gerada no país seria medida.
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A produção energética líquida nacional (após abastecimento das necessidades básicas do Estado) definiria a oferta total de créditos de energia disponíveis para distribuição à população.
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Ex: Um país produz 100 bilhões de kWh/mês → essa é a “base monetária energética”.
2. Distribuição aos trabalhadores
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Em vez de salário em moeda, o trabalhador recebe uma quantidade de créditos de energia proporcional à sua função, carga horária ou importância estratégica.
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Eventualmente, o sistema poderia caminhar para uma distribuição igualitária ou com pequenas variações por complexidade do trabalho.
3. Precificação energética de tudo
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Todos os bens e serviços teriam seu valor calculado com base na energia gasta na produção, transporte e manutenção.
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Um celular custaria, por exemplo, 480 kWh (do minério ao aparelho pronto).
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Uma viagem de avião teria preço energético baseado no combustível gasto por passageiro.
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Softwares de gestão automatizada fariam os cálculos de forma transparente.
4. Plataformas de troca
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Um sistema digital universal (como um app de "carteira energética") seria usado para gerir, gastar e transferir os créditos.
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Transações seriam rastreáveis, com rastreamento da pegada energética individual.
5. Estímulo à eficiência
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O sistema favoreceria escolhas mais sustentáveis, já que produtos de alto custo energético (carne bovina, transporte aéreo, bens descartáveis) seriam proporcionalmente mais caros.
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Reciclagem e economia circular seriam naturalmente valorizadas.
Vantagens
Aspecto | Benefício |
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Sustentabilidade | Desacoplamento do crescimento econômico do consumo energético predatório. |
Justiça ambiental | Todos pagam pelo impacto energético que causam. |
Transparência | Fim da especulação e inflação monetária sem lastro. |
Consumo consciente | Produtos com menor custo energético seriam naturalmente preferidos. |
Valorização do conhecimento energético | Maior atenção ao impacto da produção e logística. |
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Fase 1 – Complementaridade
Créditos de energia surgem como moeda paralela (como programas de fidelidade, ou “carbon coins”) usada para bonificar comportamentos sustentáveis. -
Fase 2 – Integração parcial
Uma porcentagem do salário é paga em créditos de energia. Setores como energia, transporte e alimentação passam a aceitar essa moeda. -
Fase 3 – Economia Híbrida
O crédito energético coexiste com o dinheiro fiduciário, mas tem cada vez mais valor real de mercado. -
Fase 4 – Transição sistêmica (provável após 2040–2050)
Com escassez de recursos fósseis e necessidade de rastreamento ambiental extremo, o sistema monetário pode migrar completamente para um modelo energético/digital.
Conclusão
Embora tecnicamente possível e sustentável em lógica de longo prazo, a implementação de um sistema de salário baseado em créditos de energia exigiria:
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Redefinir o papel das moedas fiduciárias.
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Um grau elevado de cooperação global.
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Tecnologias maduras de medição energética e blockchain.
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Uma cultura de consumo e produção consciente.
Mais realista, no curto e médio prazo, é um modelo híbrido — com parte do consumo sendo incentivado ou controlado via créditos energéticos, dentro de um sistema ainda monetário tradicional.
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