quarta-feira, 25 de junho de 2025

Existe a possibilidade em um futuro próximo do trabalhador receber créditos de energia ao invés de salário no final do mês. Com esse crédito, todas as aquisições teriam o seu valor calculado na quantidade de energia necessária para produzi-la. Avaliamos essa hipótese e descrevemos como seria todo o processo, caso essa hipótese se torne real.


Essa hipótese — a de substituir o salário em moeda por créditos de energia — é teoricamente possível e já foi explorada em ideias utópicas e sistemas econômicos alternativos como a Economia Baseada em Recursos (proposta por Jacque Fresco no projeto Venus) e até em discussões acadêmicas sobre "economias energéticas".

A seguir, avalio essa proposta de forma sensata, sob os aspectos econômico, tecnológico, político e social, e descrevo como funcionaria o processo caso fosse implementado.

Hipótese: Salários pagos em Créditos de Energia

O que são Créditos de Energia?

São unidades de valor lastreadas na quantidade de energia (em kWh, MJ, etc.) disponível ou necessária para produzir bens, serviços e movimentar a economia. Ao invés de dinheiro fiduciário, cada cidadão receberia uma “cota energética” mensal, que pode ser gasta conforme o consumo.

Como seria o funcionamento do sistema

1. Produção de Energia como base monetária

  • Toda a energia gerada no país seria medida.

  • A produção energética líquida nacional (após abastecimento das necessidades básicas do Estado) definiria a oferta total de créditos de energia disponíveis para distribuição à população.

  • Ex: Um país produz 100 bilhões de kWh/mês → essa é a “base monetária energética”.

2. Distribuição aos trabalhadores

  • Em vez de salário em moeda, o trabalhador recebe uma quantidade de créditos de energia proporcional à sua função, carga horária ou importância estratégica.

  • Eventualmente, o sistema poderia caminhar para uma distribuição igualitária ou com pequenas variações por complexidade do trabalho.

3. Precificação energética de tudo

  • Todos os bens e serviços teriam seu valor calculado com base na energia gasta na produção, transporte e manutenção.

    • Um celular custaria, por exemplo, 480 kWh (do minério ao aparelho pronto).

    • Uma viagem de avião teria preço energético baseado no combustível gasto por passageiro.

  • Softwares de gestão automatizada fariam os cálculos de forma transparente.

4. Plataformas de troca

  • Um sistema digital universal (como um app de "carteira energética") seria usado para gerir, gastar e transferir os créditos.

  • Transações seriam rastreáveis, com rastreamento da pegada energética individual.

5. Estímulo à eficiência

  • O sistema favoreceria escolhas mais sustentáveis, já que produtos de alto custo energético (carne bovina, transporte aéreo, bens descartáveis) seriam proporcionalmente mais caros.

  • Reciclagem e economia circular seriam naturalmente valorizadas.

Vantagens

AspectoBenefício
SustentabilidadeDesacoplamento do crescimento econômico do consumo energético predatório.
Justiça ambientalTodos pagam pelo impacto energético que causam.
TransparênciaFim da especulação e inflação monetária sem lastro.
Consumo conscienteProdutos com menor custo energético seriam naturalmente preferidos.
Valorização do conhecimento energéticoMaior atenção ao impacto da produção e logística.


Desafios e Riscos


Possíveis caminhos para a implementação
  1. Fase 1 – Complementaridade
    Créditos de energia surgem como moeda paralela (como programas de fidelidade, ou “carbon coins”) usada para bonificar comportamentos sustentáveis.

  2. Fase 2 – Integração parcial
    Uma porcentagem do salário é paga em créditos de energia. Setores como energia, transporte e alimentação passam a aceitar essa moeda.

  3. Fase 3 – Economia Híbrida
    O crédito energético coexiste com o dinheiro fiduciário, mas tem cada vez mais valor real de mercado.

  4. Fase 4 – Transição sistêmica (provável após 2040–2050)
    Com escassez de recursos fósseis e necessidade de rastreamento ambiental extremo, o sistema monetário pode migrar completamente para um modelo energético/digital.

Conclusão

Embora tecnicamente possível e sustentável em lógica de longo prazo, a implementação de um sistema de salário baseado em créditos de energia exigiria:

  • Redefinir o papel das moedas fiduciárias.

  • Um grau elevado de cooperação global.

  • Tecnologias maduras de medição energética e blockchain.

  • Uma cultura de consumo e produção consciente.

Mais realista, no curto e médio prazo, é um modelo híbrido — com parte do consumo sendo incentivado ou controlado via créditos energéticos, dentro de um sistema ainda monetário tradicional.

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